* Sei que explicar piada é chato, mas depois que me corrigiram este “corrão”, nunca se sabe quem não vai entender.
Desde os tempos da Grécia antiga sabe-se que o esporte é algo que tenta nos provar de que somos seres perfeitos. Que nascemos para superar nossos próprios limites, fazendo de conta que tais limites sequer existem. O paradoxo é que só na derrota, quando caímos no limite, é que conseguimos comprovar o quanto somos humanos imperfeitos.
Sim, o Brasil saiu da Copa. A nação cai em frustração e revolta, inventa desculpas, provoca uma briga e diz que não está. A turma do “eu te disse” chega em peso, remoendo as críticas de sempre a Dunga e aos jogadores. E no meio do furacão, a crítica mais ponderada que li não foi de nenhum comentarista ou ex-atleta, mas do nosso presidente. Vamos às aspas:
Não adianta a gente tentar ficar achando que tem um culpado. Os jogadores fizeram o que tinham que fazer dentro do campo. Era o time que tínhamos. O time jogou bem e acho que o Dunga, se formos analisar os prós e os contras, tem mais prós do que contras. É só pegar a quantidade de vitórias que as seleção teve sob o comando do Dunga e sob outros técnicos, você vai perceber que o Dunga foi um bom técnico.
Não é o que a Globo e meio mundo acha. E o fato de um técnico estreante conseguir a Copa América em 2007, a Copa das Confederações em 2009, o primeiro lugar nas eliminatórias para a Copa e o primeiro lugar do grupo G não faz mais diferença. O fato é que o brasileiro adora um Judas, principalmente no futebol. Dunga e Felipe Melo são os da vez “só” porque perderam a Copa.
Para constar, também não achei Dunga o melhor dos técnicos nem esse grupo o melhor dos times. Mas eu acho que teve bem mais garra e união do que o de 2006 – que também nem achei que foi aquela lástima toda. Voltando ao de 2010, todos eles tinham orgulho de estar na seleção e estavam empenhados em obter o hexa, mesmo sob todas as lesões e tensões do final de temporada na Europa. Também tínhamos talentos que poderiam fazer a diferença, como Julio César, Lúcio, Daniel Alves e os próprios Kaká e Robinho (tenho ressalvas para esses dois últimos, acho-os superestimados; mas também reconheço que têm bons lampejos).
O lance é que Pelé e o pentacampeonato – até agora isolado – nos acostumaram mal. Talvez sejamos historicamente os maiores vencedores das Copas, mas por outro lado, também somos um dos maiores perdedores: foram 14 que deixamos passar. Pode ser que tenha tido uma pipocagem aqui e ali, mas na maior parte das vezes foi por um motivo bem mais simples: é apenas porque o oponente jogou melhor, como foi o caso da Holanda neste ano. Nem sempre faz sentido procurar o erro do nosso lado.
Em suma, resta o óbvio: ninguém é perfeito ou invencível. Nem mesmo o Brasil no futebol. Se acreditarmos nisso um dia, poderemos dormir mais tranquilos, divertir-se mais com o esporte e deixar os jogadores reverem suas famílias em paz no aeroporto.